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sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Síndrome de Estocolmo

Em uma manhã de agosto de 1973, dois assaltantes invadiram um banco, o “Sveriges Kreditbank of Stockholm”, em Estocolmo, Suécia. Após a chegada da polícia, resultando em uma considerável troca de tiros, tal dupla transformou em reféns, por seis dias, quatro pessoas que ali se encontravam.
Ao contrário do que se poderia imaginar, quando os policiais iniciaram suas estratégias visando à libertação dos reféns, esses recusaram ajuda, usaram seus próprios corpos como escudos para proteger os criminosos e, ainda, responsabilizaram tais profissionais pelo ocorrido. Um deles foi ainda mais longe: após sua libertação, criou um fundo para os raptores, com o intuito de ajudá-los nas despesas judiciais que estes teriam, em consequência de seus atos.

Tal estado psicológico particular passou então a ser chamado de “síndrome de Estocolmo”, em homenagem ao referido episódio. Ao contrário do que se imagina, ele não é tão raro quanto pensamos, e não se resume somente a relações entre raptores e reféns. Escravos e seus senhores, sobreviventes de campos de concentração, aqueles submetidos a cárcere privado, pessoas que participam de relacionamentos amorosos destrutivos, e até mesmo algumas relações de trabalho extremas, geralmente permeadas de assédio moral; podem desencadear o quadro. Em todos esses casos, são características marcantes: a existência de relações de poder e coerção, ameaça de morte ou danos físicos e/ou psicológicos e um tempo prolongado de intimidação.
Nesse cenário de estresse físico e mental extremos, o que está em jogo inconscientemente é a necessidade de autopreservação por parte do oprimido, aliada à ideia, geralmente errônea, de que, de fato, não há como escapar daquela situação. Assim sendo, ele inicialmente percebe que somente acatando as regras impostas é que conseguirá garantir pelo menos uma pequena parcela de sua integridade.
Aos poucos, a vítima busca evitar comportamentos que desagradem seu agressor, pelo mesmo motivo pontuado anteriormente; e também começa a interpretar seus atos gentis, educados, ou mesmo de não violência como indícios de uma suposta simpatia da parte dele a ela. Tal identificação permite a desvinculação emocional da realidade perigosa e violenta a qual está submetida.
Por fim, a vítima passa a encarar aquela pessoa com simpatia, e até mesmo amizade – a final de contas, graças à sua “proteção”, ela ainda se encontra viva. No caso de pessoas sequestradas, mais um agravante: tal indivíduo é geralmente a sua única companhia!
Para exemplificar, temos o que Natascha Kampusch, a austríaca que viveu em cativeiro por oito anos, escreveu em seu livro (3.096 Dias, Verus Editora):
“Eu ainda era apenas uma criança, e precisava do consolo do toque (humano). Então, após alguns meses presa, eu pedi a meu sequestrador que me abraçasse”.
Vale frisar, no entanto, que a referida pessoa, assim como muitas que passam por essa situação e se comportam tal como foi dito, não se identifica com o quadro descrito neste texto, afirmando que “ninguém é totalmente bom ou mau” e que “aproximar-se do sequestrador não é uma doença; criar um casulo de normalidade no âmbito de um crime não é uma síndrome - é justamente o oposto: é uma estratégia de sobrevivência em uma situação sem saída”.
Na maioria dos casos, mesmo após sua libertação, a vítima continua a nutrir um sentimento de afeição por tal pessoa. Um exemplo clássico é o de algumas mulheres que sofrem agressões de seus esposos e continuam a defendê-los, amá-los e a justificar suas agressões.

Por Mariana Araguaia
Bióloga, especialista em Educação Ambiental
Equipe Brasil Escola

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